Há uma estranha beleza na noite ! Há uma estranha beleza !
Oh, a transcendente poesiaque verso algum traduz...
A via-láctea, inteiramente acesa
parece a fotografia
de um tufão de luz!
- Quem seria,
quem seria
que pregou lá no céu aquela imensa cruz?
Que infinita serenidade...
Que infinita serenidade misteriosa
nesse infinito azul dos céus e em tudo mais:
nos telhados, nas ruas, na cidade...( Só os gatos gritam na noite silenciosa
sensualíssimos ais !)Meu Deus, que noite calma... E aquela trepadeira
feminina e ligeiraveio abrir bem na minha janela
uma flor - como uma boca rubra e bela
que não terei...
- E ainda sinto nos lábios um travo nauseante
do amor que faz bem pouco, há apenas um instante,paguei...
E o céu azul assim... E essa serenidade!
Silêncio- A noite, o luar ... Tão claro o luar lá fora...
Juraria que há alguém, não sei onde que chora...
Oh, a angústia invencível que me prostra
invade
e me devora ...
JG de Araujo Jorge, Cânticos – 1949
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