Estou há
vários
dias escrevendo esta carta mentalmente, pois na mente os erros ortográficos
contam menos que os erros de atitude, e só
no que penso são
nos erros, uma vez que foram infinitamente mais constantes que os acertos.
Não
estou organizando frases para resumi-las num pedido de desculpas, pois nada me
parece mais raso e os meus erros merecem um pouco mais de consideração,
já
que foram tão
solenes e fartos, meus erros foram dos de tamanho grande, e há
que se ter por eles um desprezo de igual envergadura. Menina, só
um amor gigante provocaria esta nossa ruptura.
Se não há
explicação, ao menos sinto verter por dentro um leve
arrependimento, errei por razões mínimas
porém em vezes diversas, o que me confere
fartura, ainda que não
tenham sido erros à sua
altura. Menina, eu sei, você
preferiria que eu tivesse acertado, mesmo que um acerto e miniatura.
Talvez não
seja da minha índole
agir com generosidade, é de
família esta minha dificuldade em fazer os outros
felizes, mas, ao contrário, é dom
da tua, pois fizeste da tua felicidade a minha clausura. Que mistério é esse
de tornar um homem apático
o rei da euforia, de fazer de um homem sério o
senhor da galhardia, de fazer de um homem só um
homem mais só
ainda, por não
antever mulher alguma que consiga repetir esta aventura?
Menina, por um triz não fui
o que esperavas de mim, faltou-me a coragem, não
faltou-me a fissura. Para sempre estarei a te escrever esta carta mentalmente,
confusa e fria, mas não
impura, já que
nela abdico dos meus erros e acertos para revelar apenas o que em silêncio
te dedico, um amor injulgável,
imedível, totalmente irresponsável,
amor que abraça o
sofrimento para testar sua resistência
e que acredita, de maneira um tanto tola e quixotesca, que só este
tipo de amor é que
perdura.
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